domingo, 2 de junho de 2013

VIDA E OBRA DE MARTINHO LUTERO



Vida e Obra de Martinho Lutero

Biografia.

Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Alemanha. Foi criado em Mansfeld. Na sua fase estudantil, foi enviado às escolas de latim de Magdeburg(1497) e Eisenach(1498-1501). Ingressou na Universidade de Erfurt, onde obteve o grau de bacharel em artes (1502) e de mestre em artes (1505).

Seu pai, um aldeão bem sucedido pertencente a classe média, queria que fosse advogado. Tendo iniciado seus estudos, abruptamente, os interrompeu entrando no claustro dos eremitas agostinianos em Erfurt. É um fato estranho na sua vida, segundo seus biógrafos. Alguns historiadores dizem que este fato aconteceu devido a um susto que teve quando caminhava de Mansfeld para Erfurt. Em meio a uma tempestade, quase foi atingido por um raio. Foi derrubado por terra e em seu pavor, gritava "Ajuda-me Santa Ana! Eu serei um monge!". Foi consagrado padre em 1507.

Entre 1508 e 1512, fez preleções de filosofia na Universidade de Wurtenberg, onde também ensinou as Escrituras, especializando-se nas Sentenças de Pedro Lombardo. Em 1512 formou-se Doutor em Teologia.

Fazia conferências sobre Bíblia, especializando-se em Romanos, Gálatas e Hebreus. Foi durante este período que a teologia paulina o influenciou, percebendo os erros que a Igreja Romana ensinava, à luz dos documentos fundamentais do cristianismo primitivo.

Lutero era homem de envergadura intelectual e habilidades pessoais. Em 1515, foi nomeado vigário, responsável por onze mosteiros. Viu-se envolvido em controvérsias com respeito a venda de indulgências.

Suas Lutas Pessoais.

Lutero estava galgando os escalões da Igreja Romana e estava muito envolvido em seus aspectos intelectuais e funcionais. Por outro lado, também estava envolvido em questões pessoais quanto à salvação pessoal. Sua vida monástica e intelectual não forneciam resposta aos seus anseios interiores, às suas aflitivas indagações.

Seus estudos paulinos deixaram-no mais agitado e inseguro, particularmente diante da afirmação "o justo viverá pela fé", Romanos 1:17. Percebia ele que a Lei e o cumprimento das normas monásticas, serviam tão-somente para condenar e humilhar o homem, e que nesta direção não se pode esperar qualquer ajuda no tocante à salvação da alma.

Martinho Lutero, estava trabalhando em "repensar o evangelho". Sendo monge agostiniano, fortemente influenciado pela teologia desta ordem monástica, paulina quanto aos seus pontos de vista, Lutero estava chegando a uma nova fé, que enfatizava a graça de Deus e a justificação pela fé.

Esta nova fé tornou-se o ponto fundamental de sua preleções. No seu desenvolvimento começou a criticar o domínio da filosofia tomista sobre a teologia romana. Ele estudava os escritos de Agostinho, Anselmo e Bernardo de Claraval, descobrindo nestes, a fé que começava a proclamar. Staupitz, orientou-o para que estudasse os místicos, em cujos escritos se consolou.

Em 1516, publicou o devocionário de um místico desconhecido, "Theologia Deutsch". Tornou-se pároco da igreja de Wittenberg, e tornou-se um pregador popular, proclamando a sua nova fé. Opunha-se a venda de indulgências comandada por João Tetzel.

As Noventa e Cinco Teses.

Inspirado por vários motivos, particularmente a venda de indulgências, na noite antes do Dia de Todos os Santos, a 31 de outubro de 1517, Lutero afixou na porta da Igreja de Wittenberg, sua teses acadêmicas, intituladas "Sobre o Poder das Indulgências". Seu argumento era de que as indulgências só faziam sentido como livramento das penas temporais impostas pelos padres aos fiéis. Mas Lutero opunha-se à idéia de que a compra das indulgências ou a obtenção das mesmas, de qualquer outra maneira, fosse capaz de impedir Deus de aplicar as punições temporais. Também dizia que elas nada têm a ver como os castigos do purgatório. Lutero afirmava que as penitências devem ser praticadas diariamente pelos cristãos, durante toda a vida, e não algo a ser posto em prática apenas ocasionalmente, por determinação sacerdotal.

João Eck, denunciou Lutero em Roma, e muito contribuiu para que o mesmo fosse condenado e excluído do Igreja Romana. Silvester Mazzolini, padre confessor do papa, concordou com o parecer condenatório de Eck, dando apoio a este contra o monge agostiniano.

Em 1518. Lutero escreveu "Resolutiones", defendendo seus pontos de vista contra as indulgências, dirigindo a obra diretamente ao papa. Entretanto, o livro não alterou o ponto de vista papal a respeito de Lutero. Muitas pessoas influentes se declararam favoráveis a Martinho Lutero, tornando-se este então polemista popular e bem sucedido. Num debate teológico em Heidelberg, em 26 de abril de 1518, foi bem sucedido ao defender suas idéias.

Reação Papal.

A 7 de agosto de 1518, Lutero foi convocado a Roma, onde seria julgado como herege. Mas apelou para o príncipe Frederico, o Sábio, e seu julgamento foi realizado em território alemão em 12/14 de outubro de 1518, perante o Cardeal Cajetano, em Augsburg. Recusou-se a retratar-se de suas idéias, tendo rejeitado a autoridade papal, abandonando a Igreja Romana, o que ficou confirmado num debate em Leipzig com João Eck, entre 4 e 8 de julho de 1519.

A partir de então Lutero declara que a Igreja Romana necessita de Reforma, publica vários escritos, dentre os quais se destaca "Carta Aberta à Nobreza Cristã da Nação Alemã Sobre a Reforma do Estado Cristão". Procurou o apoio de autoridades civis e começou a ensinar o sacerdócio universal dos crentes, Cristo como único Mediador entre Deus e os homens, e a autoridade exclusiva das Escrituras, em oposição à autoridade de papas e concílios. Em sua obra "Sobre o Cativeiro Babilônico da Igreja", ele atacou o sacramentalismo da Igreja. Dizia que pelas Escrituras só podem ser distinguidos dois sacramentos o batismo e a Ceia do Senhor. Opunha-se à alegada repetida morte sacrificial de Cristo, por ocasião da missa. Em outro livro, "Sobre a Liberdade Cristã", ele apresentou um estudo sobre a ética cristã baseada no amor.

Lutero obteve grande popularidade entre o povo, e também considerável influência no clero.

Em 15 de julho de 1520, a Igreja Romana expediu a bula Exsurge Domine, que ameaçava Lutero de ser excomungado, a menos que se retratasse publicamente. Lutero queimou a bula em praça pública. Carlos V, Imperador do Santo Império Romano, mandou queimar os livros de Lutero em praça pública.

Lutero compareceu a Dieta de Worms, de 17 a 19 de abril de 1521. Recusou-se a retratação, dizendo que a sua consciência estava presa à Palavra de Deus, pelo que a retratação não seria seguro nem correto. Dizem os historiadores que concluiu a sua defesa com estas palavras : "Aqui estou; não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém". Respondendo a Dieta em 25 de maio de 1521, formalizou a excomunhão de Martinho Lutero, e a Reforma nascente também foi condenada.

Influência Política e Social

Por medidas de precaução, Lutero este recluso no castelo de Frederico, o Sábio, cerca de 10 meses. Teve tempo de trabalhar na tradução do Novo Testamento para a língua alemã. Esta tradução foi publicada em 1532. Com a ajuda de Melancton e outros, a Bíblia inteira foi traduzida, e, então, foi publicada em 1532. Finalmente, essa tradução unificou os vários dialetos alemães, do que resultou o moderno alemão.

Tem-se dito que Lutero foi o verdadeiro líder da Alemanha, de 1521 até 1525. Houve a Guerra dos Aldeões em 1525, das classes pobres contra os seus líderes. Lutero tentou estancar o derramamento de sangue, mas, quando os aldeões se recusaram a ouvi-lo, ele apelou para os príncipes a fim de restabelecerem a paz e a ordem.

Fato notável foi o casamento de Lutero, com Catarina von Bora, filha de família nobre, ex-freira cisterciana. Tiveram seis filhos, dos quais alguns faleceram na infância. Adotou outros filhos. Este fato serviu para incentivar o casamento de padres e freiras que tinham preferido adotar a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.

Houve controvérsia entre Lutero e Erasmo de Roterdã, que nunca deixou a Igreja Romana, por causa do livre-arbítrio defendido por este. Apesar de admitir que o livre-arbítrio é uma realidade quanto a coisas triviais, Lutero negava que fosse eficaz no tocante à salvação da alma.

Outras Obras.

Em 1528 e 1529, Lutero publicou o pequeno e o grande catecismos, que se tornaram manuais doutrinários dos protestantes, nome dado aqueles que decidiram abandonar a Igreja Romana, na Dieta de Speyer, em 1529.

Juntamente com Melancton e outros, produziu a confissão de Augsburg, que sumaria a fé luterana em vinte e oito artigos. Em 1537, a pedido de João Frederico, da Saxônia, compôs os Artigos de Schmalkald, que resumem seus ensinamentos.

Enfermidade e Morte.

Os últimos dias de Lutero tornaram-se difíceis devido a problemas de saúde. Com freqüência tinha acesso de melancolia profunda. Apesar disso era capaz de trabalhar tenazmente. Em 18 de fevereiro de 1546, em Eisleben, teve um ataque do coração, vindo a falecer.

A Teologia de Lutero.

Como monge agostiniano, Lutero dava preferência a certos estudos, dentre os quais se destacam a soberania de Deus, dando uma abordagem mais bíblica às questões religiosas e às doutrinas cristãs. Alguns pontos defendidos por Lutero são :

1. Nem o papa nem o padre, tem o poder de remover os castigos temporais de um pecador.

2. A culpa pelo pecado não pode ser anulada por meio de indulgências.

3. Somente um autêntico arrependimento pode resolver a questão da culpa e do castigo, o que depende única e exclusivamente de Cristo.

4. Só há um Mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo.

5. Não há autoridade especial no papa.

6. As decisões dos concílios não são infalíveis.

7. A Bíblia é a única autoridade de fé e prática para o cristão.

8. A justificação é somente pela fé.

9. A soberania de Deus é superior ao livre-arbítrio humano.

10. Defendia a doutrina da consubstanciação em detrimento da transubstanciação.

11. Há apenas dois sacramentos : o batismo e a ceia do Senhor.

12. Opunha-se a veneração dos santos, ao uso de imagens nas Igrejas, às doutrinas da missa e das penitências e ao uso de relíquias.

13. Contrário ao celibato clerical.

14. Defendia a separação entre igreja e estado.

15. Ensinava a total depravação da natureza humana.

16. Defendia o batismo infantil e a comunhão fechada.

17. Defendia a educação dos fiéis em escolas paroquianas.

18. Repudiava a hierarquia eclesiástica.


Bibliografia

1 - "Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia"; R. N. Champlin; J. M. Bentes; Candeia; 1994.

2 - "Enciclopédia Histórico-Teológica"; W. A. Elwell, ed.; Edições Vida Nova;1990.

3 - "Teologia dos Reformadores"; T. George; Edições Vida Nova; 1994.

4 - "História da Igreja Cristã"; R. H. Nichols; CEP;1992.

CREIO ATANASIANO


O Credo Atanasiano, também conhecido como Quicumque (das palavras iniciais em latim), é um dos três grandes credos ecumênicos da igreja cristã. Lutero o considerou "a maior produção da igreja desde os tempos dos apóstolos". Seu valor está em apresentar claramente os atributos divinos de cada uma das pessoas da Santíssima Trindade e testemunhar a fé na perfeita igualdade das três pessoas. É apropriado como Confissão de Fé para a Festa da Santíssima Trindade.

1. Aquele que quiser ser salvo, antes de tudo deverá ter a verdadeira fé cristã*.
2. Aquele que não a conservar em sua totalidade e pureza, sem dúvida perecerá eternamente.
3. E a verdadeira fé cristã* é esta, 
4. que honremos um único Deus na Trindade e a Trindade na Unidade, não confundido as pessoas nem dividindo a sustância divina.
5. Pois uma é a pessoa do pessoa do Pai, outra a do Filho e outra a do Espírito Santo;
6. mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um único Deus, iguais em glória e majestade eterna.
7. Qual o Pai, tal o Filho, tal o Espírito Santo.
8. O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado.
9. O Pai é incomensurável, o Filho é incomensurável, o Espírito Santo é incomensurável.
10. O Pai é eterno, O Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.
11. Contudo, não são três Eternos, mas um único Eterno.
12. Do mesmo modo, não três Incriados, nem três Incomensuráveis, mas um único Incriado e um único incomensurável.
13. Da mesma maneira, o Pai é todo-poderoso, o Filho é todo-poderoso, o Espírito Santo é todo-poderoso;
14. contudo, não são três Todo-poderosos, mas um único Todo-poderoso.
15. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus;
16. todavia, não são três Deuses, mas um único Deus.
17. Deste modo, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor;
18. entretanto, não são três Senhores, mas um único Senhor.
19. Visto que, segundo a verdade cristã, nos importa confessar cada pessoa por sua vez como sendo Deus e Senhor, é-nos proibido pela fé cristã* dizer que há três Deus e três Senhores.
20. O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem gerado.
21. O Filho provém apenas do Pai, não foi feito, nem criado, mas gerado.
22. O Espírito Santo não foi feito,nem criado, nem gerado pelo Pai pelo Filho, mas deles procede.
23. Logo, é um único Pai, não são três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos.
24. E nesta Trindade nenhuma pessoa é anterior ou posterior, nenhuma maior ou menor.
25. mas todas as três pessoas são coeterna e iguais entre si; de modo que, como foi dito, em tudo seja honrada a Trindade na Unidade e a Unidade na Trindade.
26. Portanto, quem quiser ser salvo, deverá pensar assim da Trindade.
27. Entretanto, é necessário para a salvação eterna crer também fielmente na humanação de nosso Senhor Jesus Cristo.
28. Esta é, portanto, a fé verdadeira: crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e Homem.
29. É Deus da substância do Pai, gerado antes dos tempos, e Homem da substância de sua mãe, nascido no tempo;
30. Deus perfeito e Homem perfeito, subsistindo em alma racional e carne humana.
31. Igual ao Pai segundo a divindade e menor do que o Pai segundo a sua humanidade.
32. Ainda que é Deus e Homem, nem por isso são dois, mas um único Cristo.
33. Um só, não pela transformação da divindade em humanidade, mas mediante a recepção da humanidade na divindade.
34. É, de fato, um só, não pela fusão das duas substâncias, mas por unidade de pessoa.
35. Pois, assim como corpo e alma racional constituem um único homem, Deus e homem é um único Cristo,
36. o qual padeceu pela nossa salvação, desceu ao inferno, no terceiro dia ressuscitou dos mortos.
37. Subiu ao céu, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
38. E quando vier, todos os homens hão de ressuscitar com os seus corpos e dar contas de seus próprios atos,
39. e aqueles que fizeram o bem irão para a vida eterna, mas aqueles que fizeram o mal, para o fogo eterno.
40. Esta é a verdadeira fé cristã*. Aquele que não crer com firmeza e fidelidade, não poderá ser salvo.

* Cristã: o texto antigo diz “católica”, que significa toda a Igreja uma vez que confessa a totalidade da doutrina cristã.